quarta-feira, maio 30, 2007

inacabado (inacabável)

Alguns riam, outros se esforçavam por tirar das gargantas cansadas gritos de protesto. Nenhum deles estava sereno. Movimentavam-se incessantemente, como se a juventude ignorasse um longo dia de caminhada e manifestações. Logo iriam para casa. Mas não podiam deixar de sentir uma estranheza em relação a este final pacífico. Afinal, era inédito.
Não deveria ter sido surpresa a atitude de alguns de munir-se de pedras para atacar a polícia civil, que vinha acompanhando os estudantes desde o início do dia. A violência começou silenciosamente. Um estudante se afastou, procurou pedras serenamente, selecionando o tamanho. Nem tão grande, que não possa ser atirada longe, nem tão pequena, sem efeitos. Juntando-as no bolso, na mochila. Chamando quem estivesse em volta. Então, um rompante. A correria, o bolso pesado batendo contra as pernas e a aproximação da polícia. O ataque.

Do outro lado, a defesa. Ou, o ataque enfim permitido, desculpado. A covardia. Os homens de capacete e escudo não conseguiam mais suportar a humilhação de não poder encostar nos jovens. Ter de estar tão perto daqueles que faziam o trabalho ainda mais maçante, cansativo, infernal, quieto, não era certo. As pedras eram uma desculpa para o real ataque.

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