sábado, dezembro 16, 2006

No aeroporto

Música sertaneja bem ao lado. Para mim, Ipod em volume máximo. É um casal: ele toca e canta, ela balança a cabeça e faz como quem se identifica com as canções. No outro lado, um par. Acabaram de se conhecer, presenciei. Ele tem cara de Goiânia, ela, de Manaus. Ele conversa tão bonito, sorrindo e com o dorso virado para ela, envolvido no momento. Ela fala com experiência, gesticulando. É mais velha, serena.

Um apito e um aviso indicam que alguns agora devem recolher sua bagagem espalhada e ir embora. Difícil, aqui neste local. Eles estão indo para casa, em dia de aeroporto lotado pelo atraso de muitos vôos. Não, não são os controles de vôo hoje. Nem o buraco negro no céu brasileiro. É só a chuva agressiva que inundou São Paulo e prejudicou todo o espaço aéreo.

Uma moça dorme ali na frente. Outras duas, ao lado, conversam. O filho de uma delas está impaciente. Já imaginou tudo o que podia: as cadeiras já foram cavalinhos, as colunas já foram muralhas intransponíveis, os outros passageiros, orcs, hobbits, bruxos ou elfos. O suor escorre pelas têmporas. Ele só quer ir para casa, mas mesmo assim, não esperneia. Procura imaginar além. Brincar com os calçados ainda não foi feito, que tal?

O casal sertanejo foi embora, já posso deixar de correr riscos auditivos. O Ipod está mais baixo, a música mais calma. O movimento no aeroporto também diminuiu. A situação está quase contornada e muitos vôos estão saindo. O meu, não. Já está confirmado para daqui a cerca de uma hora. Já consegui matar meia hora. Já? Não. Só. Somente meia hora, dentro de duas cheias.

(Ele é José, de Porto Velho ou Ji-Paraná. Ela, a mulher mais velha e experiente, desejou boa sorte, ele mandou um beijo. Foi tão bonito!)

Eu não quis cadeiras. E como eu, algumas malas abandonadas estão jogadas no chão lustrado. Uma garrafa de água, uma revista e um bloco de notas fazem companhia às bagagens. O dono, não sei onde está. Quem sabe em um dos orelhões, ligando para a família ou para empresa, avisando que decidiu pegar um táxi quando chegar, vai estar muito tarde. Ou quem sabe ele está no banheiro, lavando o rosto, tentando acordar.

Para a minha surpresa, o sertanejo voltou. Sem seu par. Agora ele já não toca mais, está sem platéia. Então eles não eram um casal? Que decepção.

Falta um minuto para onze da noite. Eu viajo desde três da tarde. Ainda não me cansei, surpreendentemente. Nos aeroportos, encontro uma tristeza serena, reflexiva. Encontro rostos ansiosos desejando que suas expectativas com relação à chegada finalmente sejam concretizadas. Viagens são um tempo ausente, em que se ocupa com lembranças e com o futuro, mas raramente com o presente. E me consola a aceitação da ausência.

Gostaria de me ausentar, agora.

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