terça-feira, janeiro 13, 2009

Pensemos no conceito esquizofrenia mútua. Ocorre quando o único sentimento compartilhado de fato é a doença. Há necessidade de mais estudos e discussões, mas acredito que o que une os pacientes é a ilusão. Os dois lados acreditam entender-se completamente, de forma única, raríssima, com certeza algo a se manter infinitamente. No entanto, o sentimento de compartilhar por completo na verdade é só isso: uma casca. Não há nada por dentro. Na verdade, cada um tem uma concepção diferente do que acontece. Inclusive episódios ganham cores, frases e atos diferentes. Até que se perceba o vazio dessa união – se é que se percebe, há casos crônicos de esquizofrenia mútua –, a única coisa que garante a comunicação é a casca. Ou seja, passa-se até anos com a impressão de que corpo e alma do par são um só, porém, ambos estão solitários, mal conseguem descrever – como foi detectado em testes – informações básicas do parceiro, tais como cor dos olhos, idade, corte de cabelo e camiseta preferida.
Os casos mais recebidos na clínica são de pacientes que, por motivos externos tais como acidentes ou choques emocionais graves, estão no processo de percepção do próprio quadro clínico. Não foi determinado o período da transição esquizofrenia-saúde, mas sabe-se que os sintomas são choro descontrolado – o que causa danos sérios à visão –, automutilação, violência, geralmente associada ao então par, e falta de apetite. Caso essa transição seja brusca e não tenha acompanhamento de um profissional – psiquiatra, obviamente – é muito provável que o quadro evolua para depressão.
Ainda faltam pesquisas mais apuradas quanto às razões para o surgimento dessa doença que, inédita, é a única a ser desenvolvida ao mesmo tempo em duas pessoas. Normalmente, são pessoas que se conhecem há pouquíssimo tempo, têm baixa auto-estima, são céticas e solitárias. Se a doença é desenvolvida mutuamente, o mesmo não se pode dizer sobre sua cura natural. Há quem seja mais resistente e logo saia desse quadro. Nesse caso, a pessoa menos resistente corre risco de alucinações. Analisei já uma mulher de 35 anos que, com o parceiro curado, continuou a viver serenamente imaginando estar com ele. Cinco anos depois, ela ainda está na ala psiquiátrica do hospital.
O tratamento à esquizofrenia mútua se dá com sessões de psicanálise, bons filmes, literatura russa e atividades, tais como escultura em barro, vagonite, cozinha japonesa e também o estudo da teoria musical, em grupos de 6 a 10 pessoas.

Um comentário:

meu paredro disse...

Absolutamente Sardônico isso, Fer.

Mas muito bom, vc escreve bem prá caramba !

Beijo =)