domingo, novembro 02, 2008

Teddy* diria: não transponha para a chuva, tão neutra e sem sentimentos, os teus sentimentos. Isso é coisa de poeta. Assim, retardei o começo de um texto que diria logo no início: chove. Chove. Eu não chovo, Teddy. Queria dizer que estou num mundo sem chuva, ou sem quaisquer neutralidades. Mundo em que os sentidos se potencializam na velocidade mais alta, da luz, que seja, e me cegam e me deixam muda. Muda. Existe um livro ao meu lado – e não me venha dizer que livros são insensíveis, pois carregam em si, vivos, sentimentos, dores e idéias, e carregam seus autores que logo viram a única voz neste meu mundo em que o silêncio é concreto e, mesmo sem sentir, reverbera em mim – e este livro é que me resgata do mundo das neutralidades, me leva ao mundo dos sentimentos potencializados. Mesmo, há de ressalvar um ponto. Deixo-me levar, e cega e muda, sou também passiva. Passo o dia aqui, como se no teu mundo, mas não, mas em outro. E no outro sou nada, espectadora, as linhas estão escritas e estão escritas e não sou nada nelas. Eles reverberam em mim, eu não existo no outro a não ser peso morto, eu não sei voltar, eu não fico como se importasse e o dia passa e passa e vida, em mim, é qualquer coisa pequena e insuficiente.

* Teddy é personagem do conto Teddy, no livro Nove Estórias, do J.D. Salinger.

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