quarta-feira, novembro 08, 2006
Um
Alergia à intimidade. Aquela vontade, irreconhecível, de dançar sozinha, de experimentar os passos que eu mesma inventar. O discurso do solitário, em que a maior opinião é a dele mesmo. Não há outras a serem levadas em conta, outras maiores. Um único discurso: o que fala à parede. Mas há firmeza na voz, a única característica que conta. A leveza de um só permite vôos mais altos. Nada de apoios, pézinhos, ilusões românticas. A leveza dos vôos solitários, eu conheço agora. Vá para longe, vá embora. Alergia à intimidade. Olha o meu braço, tá vendo? É das suas mãos, de me puxarem, de me forçarem. Sem esforço, que não quero isso. Quero as cadeiras, os livros, as revistas, os melhores amigos do mundo, o celular silencioso, a confusão desamparada. O desamparo. Que tal conhecer algo que não seja o mimo, por um pouco? Só um pouco, pelo menos. Olha a marca das suas mãos, reconhece? Eu sei que são suas, você não vê. O desamparo, a confusão, esses elementos da vida-novela me permitem. Vida-novela, capítulos longos, cenário disfarçado, quase nada real. De real, só suas marcas. A ilha, quero a ilha. Cansei das intromissões, dos julgamentos. Que eles não enxergam as marcas, a firmeza, o desamparo. Que eles não me enxergam. Só a ilha, vai. Os passos solitários. O vôo solo. O discurso único.
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Um comentário:
droga, vai soar exagerado e fora de contexto, mas vai do mesmo jeito, pq eu adoro ele (e me perdoe o português, estou meio modernista hoje):
"não podemos compreender o mundo em que vivemos se não nos encerrarmos em nós mesmos" (saint-exupéry, em "vôo noturno)
e é sozinho que conseguimos ver toda a grandeza das coisas, se perder na imensidão do simples.
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